A inadimplência do consumidor brasileiro deve continuar crescendo ao longo dos próximos meses, influenciada pelas taxas de juros elevadas, inflação e desemprego. Saber como renegociar um débito, calcular o valor das parcelas, entender os juros e, sobretudo, planejar-se são quesitos preciosos para sair do vermelho. Muitos brasileiros nem sequer sabem quanto realmente ganham e de quanto dispõem para tentar voltar ao azul.
No início do ano, a taxa de inadimplência voltou a traçar uma trajetória de alta. Apontou, segundo a Serasa Experian, crescimento de 1,8% em abril, na comparação com março, e de 12,2% se comparada a abril de 2014. Apesar da perspectiva de elevação, o indicador deve se manter abaixo do patamar 100 (ponto de equilíbrio), mostrando que as taxas estão inferiores ao padrão histórico.
O SPC Brasil estima que, entre março e abril de 2015, cerca de 600 mil consumidores foram incluídos em listas de devedores negativados. Com esse resultado, já são 55,3 milhões de devedores, ou seja, 37,9% da população entre 18 e 95 anos. Estar inadimplente não é motivo para sentir vergonha. O ideal é buscar ajuda, tentar se controlar e resolver o problema com as possibilidades que existem.
“O mais importante é fazer o planejamento financeiro”, diz Valéria Saturnino, sócia e consultora financeira da Ceplan Multiconsultoria e professora de finanças da Faculdade dos Guararapes. “Tirando os gastos correntes, o saldo que se tem é o que se pode usar para renegociar as dívidas, avaliar uma parcela que caiba no bolso e aí buscar as melhores taxas de juros no mercado”, resume. Confira o passo a passo na arte ao lado.
Uma ótima estratégia, segundo a professora de economia da Faculdade Boa Viagem, Amanda Aires, é dar boa entrada para conseguir na hora de negociar o débito uma taxa de juros mais atrativa. “E ter paciência para ouvir o que o credor tem a dizer. Não ir com ansiedade de querer resolver tudo de uma só vez”, complementa.
Do vermelho para o azul
1º passo: o planejamento
Calcule quanto você ganha líquido, ou seja, o que você recebe por mês menos os descontos.
Separe seus gastos correntes, isto é, os fixos, que não deixarão de existir (mas que não significa que você não pode racionalizá-los), como aluguel, energia, água, transporte, gás, internet, etc. Os gastos correntes têm que caber dentro da sua receita mensal.
O que sobrar é o seu “respiro” e o que você terá para também pensar em como se livrar dos débitos contraídos.
2º passo: as taxas de juros
Cartão de crédito e cheque especial são as modalidades de taxas de juros mais pesadas.
Confira (dados de abril)
Cartão de crédito: 12,14% ao mês (295,48% ao ano)
Cheque especial: 9,74% a.m. (205,06% a.a.)
Significa que, se você deixar de pagar R$ 100 da fatura do cartão, no mês seguinte esse valor será de R$ 112,14. No cheque especial, R$ 109,74. E a bola de neve vai crescendo… Antes de realizar uma compra via cartão, avalie se o gasto caberá no orçamento. Preste atenção também na soma das parcelas com os juros.
3º passo: a negociação
Na hora da negociação junto ao credor, ter uma boa entrada amplia as chances de se conseguir uma menor taxa de juros para o parcelamento do restante do saldo.
Se você não tiver essa entrada, converse com paciência com o credor. Os dois precisam dessa negociação, ele também está interessado em fechar o acordo. Ouça o que ele tem a dizer, sem ansiedade, e vá munido de boas informações. Saiba quanto realmente você deve, que taxas de juros paga e quanto do seu orçamento pode ser destinado a renegociar o débito. Mostre o quanto você tem e que está disposto a cumprir com o pagamento dentro dos seus limites.
Só vale a pena contrair um novo empréstimo para quitar um antigo se a taxa de juros for menor. A sugestão é tentar um empréstimo pessoal, que tem taxas menores, que englobe o valor total da dívida e quitar logo o buraco junto ao cartão de crédito e o cheque especial.
E aí é essencial o cuidado na hora de avaliar o valor dessa parcela do empréstimo. Não vale contrair um débito que você igualmente não terá como pagar.
Empréstimo pessoal – bancos: 4,00% a.m. (60,10% a.a.)
Empréstimo pessoal – financeiras: 7,54% a.m. (139,24% a.a.)
Se você é correntista em mais de um banco, procure negociar com aquele em que é cliente mais antigo e movimenta mais a conta, para conseguir mais benefícios. Alguns bancos também oferecem condições especiais para atrair novos correntistas , avalie a possibilidade.
Ao optar por um consignado, busque o banco que tem convênio com a empresa em que você trabalha. As taxas ficam mais atrativas.
Cuidado com o consignado. Exija explicações sobre taxas mensais e anuais e cópia do contrato. Não feche acordo com dúvidas.
Se tiver dúvidas ou estiver inseguro, procure ajuda.
4º passo: a reeducação
Economizar, poupar e investir são três passos diferentes do planejamento financeiro.
O controle do que se ganha e do que se gasta precisa ser encarado como rotina.
Calculado científica
Confira na matéria “Como calcular parcelas e taxa de juros de financiamento usando calculadora científica” como usar a calculadora científica HP 12C, com orientações da economista Valéria Saturnino. Você pode baixar o aplicativo gratuito Andro 12C Free pelo Google Play ou acessar a calculadora virtual pelo link epxx.co/ctb/hp12c.php, também gratuito.
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